Não escolhi sonhar minha velhice
Os sonhos vieram como conta gotas
Como qualquer velho é estranho sonhar
Tal como o desejo e acções por natureza.
Quanto à mão trémula sem força igual a um guerreiro
O punho cicatrizado com o uso da espada da Vida
Trazendo momentânea a astúcia de outrora
Então minha alma e corpo envelhecido
Envelhecido com agruras e muitas incursões
Envelhecido com o nomear cousas e lousas
Envelhecido fraseando um aqui-vindo um ali-indo
Até agora tudo isso a base dos sonhos e deveres
Assim incendiado com uma réstia de poder e acção
Esquecendo-me dos conselhos dos anciãos
Esquecido no meio de tantas batalhas vividas
Esquecido do poder antes me concedido por mérito
Assim de novo incendiado pelas notas de valente me dadas.
A velhice é um factor de vivências,
É um estado de vida envelhecendo.
Só não terá rugas quem bebeu do fontenário da Vida,
Desde a meninice à puberdade e anos gloriosos,
Daí não me posso recusar a beber minha velhice.
A taça é a mesma não adiantando esconder as marcas do Tempo,
Seria desastroso agora esconder tudo o que vivi, derrotas e victórias!
Só supero as consequências negativas da velhice,
Quando recordo a (des)graça de uma pobreza!
Afirmo e invejo admitir o facto de qualquer idiota
Jovem se impor melhor que eu na comunidade inserido.
Minhas cicatrizes sabem muito bem arruinar meu reparo
E a gabarolice da tese de que um dia, fui um valente.
De uma forma ou outra chegarei à velhice de corpo e alma,
Nas minhas veias circularão bombeado por um coração cheio
De emoções vividas como um telhado de vidro transparente
Que contarão de mim um tempo bem vivido. ..
Manterei no cardápio criado pelos anos,
Dentro de rascunhos uma essência só minha
Na verdade de minha vida entre ganhos e perdas
A verdade que a Vida nunca me irá renegar. ..
Sem pedir morrerei sem pirraça e sem negas,
Num jogo de gato e rato onde o medo e o faz-de-conta é Rei.
by mghorta