Quis percorrer caminho de antes, saí pela noite e sem moderação porque meu coração falou alto, não tinha vento nem chuva, fazia um luar de amores, apenas o silêncio por companhia, até que dou de caras com uma vitrina, era um bar que me era familiar, espreitei e nada vi de interesse, voltei costas e pensei que não era lugar para mim hoje.
Quando caminho dou face a face com uma silhueta que me era familiar:
- Olá tu por aqui... (eu)
- Sim, e tu também! (ela)
- Saí só para saber como estavam as noites de Leiria! (eu)
- Piada, também aproveitei a noite para tentar recompor ideias, as nuvens estão longe, o calor me deixa extasiada, e queria aproveitar com alguém este momento... (ela)
- Perdoa-me amiga, não sei se serei o elo que precisas, mas aproveitamos o momento para saber mais de ontem que o presente já sabemos... (eu)
Confesso, não sei que me passou pelo cérebro estar a fazer uma proposta a alguém que me era tão familiar, ao mesmo tempo desconhecida.
Damos connosco a caminhar sem destino por uma calçada que em tempos pisei, o cheiro das laranjeiras secas de sede, caminhámos e fomos bater de novo na vitrina embaciada de fumos, fumos de um ambiente nocturno que tanta vez foi meu habitat e que com o tempo nada mudou, as pessoas nos olhavam como interrogando:
- Olha, ele regressou mas quem é a moça?
Sentámos num canto acolhedor como que o lugar fosse sempre nosso, pedimos algo para beber e trocamos uns mimos, mimos de compromisso que como estivéssemos ali à muito sentados, como que fossemos dois amantes.
- Casualidade a nossa, nunca supus te encontrar por aqui amiga? (eu)
- Pois não, até porque nem sabia que frequentasses as noites de Leiria... (ela)
Assim continuamos conversando, mais uma bebida e outra, sussurrámos e rimos de coisas banais, parecíamos dois colegiais que se tinham encontrado a primeira vez, mas o ambiente propiciava atrevimentos, atrevimentos que com a bebida exalava os nossos olhares como que se estivéssemos quase nos braços um do outro.
As mãos, essas tocavam nos corpos baixo da mesa já cansada de ouvir nossas conversas de gozo, gozo esse que só não trepava para outro patamar porque o lugar e os olhares nos fulminavam como que fossemos estranhos, sim estranhos num ambiente tão quente em que até os nossos corpos exalavam suor de tesão.
As horas passaram, com elas toques, beijos leves, beliscos e risos comprometedores e atrevidos, porque também o quisemos assim para mostrar que o bar nos era tanto nosso como deles.
- Ficamos por aqui? (eu)
- Não sei, e tu que me dizes? (ela)
Nossas peles suavam, as roupas transpiravam suores e odor a coco, somente o espaço e o lugar não nos deixavam acabar nossos instintos de desejo.
Já pela madrugada dentro, os vidros embaciados da vitrina que meus dedos limparam para escrutinar a noite lá fora:
- Vamos, não percamos mais tempo...
Dou por mim na rua, sentado num banco de jardim e ela por cima em meu colo, os arbustos e as estrelas eram testemunhas de uma entrega total, parecia que o tempo e o mundo parou nos momentos seguintes, tudo tão perfeito e tão promissor como o luar, não sei até quanto durou a entrega dos nossos corpos e de quem nos viu ou desviou o curso de seu trajecto pelo jardim porque o espaço era só nosso e os gemidos de prazer eram tão notórios que, a satisfação foi tal ao ponto de nossos lábios molhados teimavam não separar, os olhares vidrados e nossas roupas desajeitadas que até nos davam aspecto de simples e comuns amantes noctívagos.
- Não, não vais... (disse ela)
.
.
.
Acordo, simplesmente acordo com a intenção de que o sonho fora tão real como os seus intervenientes.
by mghorta