... iludo-me, acalento ideias e esperanças que fervilham nos meus cabelos, umas vezes lisos outras vezes encaracolados mas sempre grisalhos, sofro e penitencio-me do passado egoísta para justificar o meu abandono.
A espera é constante, vivo enclausurado de momentos vividos e sofridos por um amor suspenso, nego ao meu ser qualquer hipótese de um dia viver uma felicidade permanente pela qual anseio a todos os momentos reviver o que mais desejável existe que é amar.
Sobrevivo órfão de amor, de paixões e de caricias tuas, recuo no tempo e vejo o teu brilho distante como um declinável desprezo, será pura cegueira minha mas nada vislumbro senão ideias no silêncio da noite, torturo-me mais e mais cada vez que as ideias fervilham pela calada na noite nos meus grisalhos cabelos.
Invento fantasias dentro do meu cérebro catoso de lembranças falsas, as mesmas que tento esquecer, nas mágoas causadas por falsos amores ao ponto de ficar amputado de ideias para continuar a sobreviver paixões amorosas, é uma vida dormente e doentia, mas não tive outra escolha e assim passo o dia a dia e as noites consoante o silêncio da noite que tento viver.
Viver assim não passa por ser uma obscenidade e pecado, um atentado ao meu ser e às leis do meu corpo, um desperdício de inteligência, de saúde e de ocasiões para me valorizar sobre os momentos vividos e corridos pelos corredores de uma vivência que um dia foi a mais bela junto de quem eu pensava que me amava, mas nada passou de momentos fugazes de um amor platónico e hoje tento sobreviver a tudo enquanto as ideias do silêncio da noite fervilham pelos meus cabelos lisos, encaracolados ou grisalhos.
Mas o que eu mais desejaria era te ter aqui, ouvir teus ralhos como que fossem puxões de orelhas, agarrar as tuas bochechas e puxar para mim teus lábios e ficarmos colados e só ouvindo os movimentos dos nossos corpos como um só, beijar continuadamente para que ficasse de novo louco com as ideias rastilhadas em meu cérebro pela essência de teu amor.
Que saudade das ondas de teu corpo nas minhas mãos trémulas, do teu nariz mimoso de carinho, de tuas pestanas em meus lábios, dos brancos dentes e da língua entrelaçada na minha, do universo de teu olhar, do sorriso malicioso, das saliências de teus peitos e do bico hirto de tesão e do perfume que deixaste em mim que o silêncio da noite não é suficiente para não deixar de recordar.
Que saudade de envolver-te em meus braços, encostar o meu peito no teu e sentir teu bater de coração forte, as mordidas de orelhas e lambidelas, as mordidas no pescoço, e os teus murmúrios em que dizias, não... não pares agora por favor quero ser mulher.
Iludido-me mais um pouco, não deixam de ser ideias e sonhos acordado com tudo aquilo que queria reviver e desejar de novo, amor e carinhos teus no silêncio da noite.