18 de dezembro de 2014

Poderei morrer sem dizer tudo...




Não sou diferente dos mortais,
o silêncio me sufoca e amordaça,
calado vou estar, calado estou,
porque minha linguagem é outra,
palavras sentidas e contidas,
acumulam-se por ser o que sou,
sabendo quem tu és e não resolver,
ficam represas em folhas sem anexo,
como que em cisterna de águas mortas,
ácidas mágoas em limo se formam,
num fundo retorcido de raízes tortas.


Não sou diferente dos mortais,
que nem me esforço para as dizer,
palavras que não digam o que sei,
no retiro que nem todos conhecem,
no lamaçal de minha condição,
onde me arrasto como verme,
nos lodos onde bóiam animais mortos,
almas pecaminosas e medos,
tugidos como cachos emaranhados,
no negro poço onde tudo é vão,
onde a clemência vive sobram as mãos.


Não sou diferente dos mortais,
só direi crispa-mente escondido,
surdo e mudo recolhido,
da forma como me calo sem falar,
não poderei morrer sem dizer tudo...

by mghorta  (citando Saramago)


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